Athens News - Afeganistão tem novo tremor, em pleno luto após um dos piores terremotos em décadas

Afeganistão tem novo tremor, em pleno luto após um dos piores terremotos em décadas
Afeganistão tem novo tremor, em pleno luto após um dos piores terremotos em décadas / foto: Wakil Kohsar - AFP

Afeganistão tem novo tremor, em pleno luto após um dos piores terremotos em décadas

A terra voltou a tremer nesta terça-feira (2) no Afeganistão, reacendendo o trauma de milhares de famílias que agora estão desabrigadas no leste do país, onde um terremoto de magnitude 6 deixou no domingo mais de 1.400 mortos e 3.100 feridos.

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Na escuridão de seus povoados empoleirados nas encostas verdes das províncias de Nangarhar e Kunar, perto da fronteira com o Paquistão, "mulheres, crianças, idosos protegidos apenas por um xale" passam mais uma noite sem teto, contou à AFP Ijaz Ulhaq Yaad, uma autoridade de Nurgal, um dos distritos mais afetados.

"Não há nada para comer, tudo ficou enterrado sob os escombros e nada pode chegar por estrada e, além disso, ainda são sentidos fortes tremores secundários", detalhou.

Os habitantes de Jalalabad, a capital de Nangarhar, também permanecem nas ruas, temendo que outro tremor os acorde novamente durante a noite.

Nesta terça-feira, após o meio-dia, um novo sismo de magnitude 5,2 abalou esta região do leste do Afeganistão, cujo epicentro esteve próximo ao local onde foi registrado o terremoto de magnitude 6,0 no domingo, que devastou áreas remotas próximas à fronteira com o Paquistão.

O sismo desta terça "foi sentido nas mesmas áreas que foram afetadas em Kunar no primeiro terremoto", disse à AFP o porta-voz de gestão de desastres da província, Ehsanullah Ehsan.

O último tremor reportado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos na noite desta terça não causou novas vítimas.

- Buscam continuam -

Nas províncias montanhosas de Nangarhar, Kunar e Laghman, as buscas por desaparecidos continuam. O porta-voz do governo talibã, Zabihullah Mujahid, disse que somente em Kunar, a área mais atingida, 1.411 pessoas morreram e 3.124 ficaram feridas.

As equipes de resgate seguiam buscando desesperadamente por sobreviventes em meio aos escombros de mais de 5 mil casas desabadas.

Os efeitos do terremoto e suas réplicas poderiam afetar "centenas de milhares" de pessoas, alertou Indrika Ratwatte, coordenador humanitário das Nações Unidas no Afeganistão. "Não há dúvida de que o número de vítimas será muito exponencial."

Moradores de alguns vilarejos se juntaram aos esforços de resgate, usando as mãos para remover os escombros de casas de barro e pedra, construídas em vales íngremes.

Obaidullah Stoman, de 26 anos, que foi ao vilarejo de Wadir procurar um amigo, ficou impressionado com o nível da destruição. "Estou procurando por ele, mas não o encontrei. Foi muito difícil para mim ver as condições do local", disse à AFP.

Em outros lugares, famílias enterraram corpos, alguns deles de crianças, envoltos em mortalhas brancas, seguindo o rito muçulmano.

O epicentro do terremoto foi localizado a 27 quilômetros de Jalalabad, capital da província de Nangarhar, e a uma profundidade de apenas oito quilômetros.

Terremotos próximos à superfície podem causar mais danos, especialmente porque a maioria dos afegãos vive em casas de adobe, vulneráveis a desabamentos.

Diante da tragédia, o fundo global de resposta a emergências da ONU mobilizará 5 milhões de dólares (R$ 27,1 milhões na cotação atual) em ajuda, anunciou na segunda-feira o secretário-geral da ONU, António Guterres.

- "Assistência imediata" -

 

A UE também planeja destinar 1 milhão de euros (R$ 6,3 milhões) em ajuda emergencial a organizações internacionais que já estão no local.

Após décadas de conflito, o Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo e enfrenta uma crise humanitária prolongada e a chegada de milhões de cidadãos forçados a retornar ao país pelos vizinhos Paquistão e Irã nos últimos anos.

A assistência estrangeira ao país foi drasticamente reduzida, minando a sua capacidade de responder a desastres.

Os Estados Unidos foram o maior doador até o início de 2025, quando, após a posse do presidente Donald Trump, quase todo o financiamento foi cancelado. A UE vem preenchendo este vácuo.

O país sofre terremotos frequentes, especialmente na cordilheira Hindu Kush, perto da junção das placas tectônicas eurasiática e indiana.

Em 2023, dois anos após o retorno dos talibãs ao poder, um grande terremoto atingiu a região de Herat, do outro lado do Afeganistão, na fronteira com o Irã.

Mais de 1.500 pessoas perderam a vida e mais de 63 mil casas foram destruídas pelo terremoto de magnitude 6,3.

R.Zachariou--AN-GR