Athens News - "Ameaça real": pescadores venezuelanos criticam destacamento militar dos EUA

"Ameaça real": pescadores venezuelanos criticam destacamento militar dos EUA
"Ameaça real": pescadores venezuelanos criticam destacamento militar dos EUA / foto: Federico PARRA - AFP

"Ameaça real": pescadores venezuelanos criticam destacamento militar dos EUA

Os vídeos de supostas lanchas que transportam drogas explodidas pelos Estados Unidos no mar do Caribe deixaram os pescadores venezuelanos em alerta, que agora muitas vezes saem para pescar em grupo e medem cuidadosamente seus passos por medo de serem atacados.

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"Como vão comparar um destróier com uma lancha de pesca?", pergunta Joan Díaz, pescador de 46 anos, em alusão aos navios de guerra que Washington enviou perto da Venezuela sob o argumento do combate ao narcotráfico.

Sem mostrar até agora provas que sustentem as acusações, o presidente Donald Trump afirmou que os ataques deixaram pelo menos 14 criminosos mortos. Mas Caracas o acusa de cometer execuções sem julgamento em alto-mar.

Trump disse na terça-feira (23), diante da ONU, que utiliza o "poderio militar" dos Estados Unidos para destruir redes de narcotráfico vinculadas ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro. Ele nega e afirma que são mentiras para justificar uma invasão militar na Venezuela.

Joan questiona o fato de os Estados Unidos terem destruído as lanchas em vez de prenderem seus ocupantes.

"Quando você aborda as lanchas tem que levar essas pessoas detidas e depois submetê-las ao devido processo, mas se as explodem, como fazem?", pergunta Joan.

"Vão bombardear sem saber se realmente tinham a droga, que é a prova do crime, e sem saber quem eram as pessoas", acrescenta.

Nesse contexto, o governo venezuelano entregou radiobalizas aos pescadores, que devem ser acionadas em caso de algum incidente.

Além do medo, os vídeos das embarcações bombardeadas causaram "indignação" e "raiva", assegura Luis García, líder de um dos 24 conselhos de pescadores do estado costeiro de La Guaira, a cerca de 30 km de Caracas, onde se agrupam 4 mil trabalhadores e 700 embarcações de pesca artesanal.

"É uma ameaça real", comenta ele de um cais em Caraballeda, um ponto turístico de La Guaira com vista para o mar e a montanha.

Em um espaço com grandes janelas voltadas para o Caribe, sua esposa e outras companheiras processam parte do pescado que chega a cada tarde, quando a pesca é boa. Cortam ervas aromáticas e coloridos pimentões, indispensáveis na gastronomia local, para preparar uma popular receita de peixe desfiado que embalam a vácuo para vender.

Embora digam não ter medo de ir ao mar, o recente discurso de Trump na ONU não lhes passa despercebido: "Foi belicista, praticamente nos ameaçou", acrescenta Luis, de 51 anos.

- "Melhor pescar unidos" -

Para se proteger de possíveis incidentes, pescadores em La Guaira otimizam suas comunicações, procuram sair para a faina em grupo e medem com cautela as distâncias em que pescam.

Normalmente viajam em pequenas lanchas, em sua maioria cobertas com uma lona para se protegerem do sol. Levam um botijão de gás para cozinhar, já que muitos ficam quatro dias ou mais a cerca de 40 milhas da costa. Outros pescadores saem de madrugada e voltam à tarde.

As aves marinhas os guiam na tarefa, pois costumam se agrupar em lugares cheios de peixes.

No mesmo cais onde Luis García trabalha, um velho pescador, cuja pele curtida revela anos de exposição ao sol, comemora ter pescado com sua pequena embarcação um atum-rabilho-amarelo de 65 quilos.

Os barcos atuneiros maiores percorrem distâncias mais longas. Isso agora representa novos riscos, depois que a Venezuela denunciou que 18 militares americanos entraram em um barco atuneiro em águas venezuelanas e detiveram nove pescadores por várias horas.

Estavam "procurando armas e drogas que não existem", assegura Joan.

Tudo isso em meio ao deslocamento de oito navios de guerra no Caribe, um submarino de propulsão nuclear e aviões para tarefas de inteligência cujos voos se triplicaram desde agosto, segundo o ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López.

"É melhor estarmos todos unidos e não ir tão longe. Para pescar atum é preciso ir muito longe, e é lá que eles estão" (os navios americanos), acrescenta Joan.

Os pescadores "vamos continuar saindo para esse mar do Caribe, que nos pertence", afirma Luis, vestido com uma camiseta com a frase "Pescar é vencer".

"Nós temos barcos de nove metros, dez metros, doze metros, contra embarcações que têm mísseis, imaginem só a loucura... É totalmente desproporcional."

Y.Kostopoulos--AN-GR