

Entrada em campo no "estilo NBA", a polêmica novidade na Copa do Mundo de Clubes
A entrada simultânea das duas equipes, com jogadores alinhados em fila indiana, virou coisa do passado. Pelo menos na Copa do Mundo de Clubes, que adotou o pitoresco estilo de entrada da NBA em mais uma tentativa de finalmente fazer com que o 'soccer' conquiste os Estados Unidos.
A "evolução" e a "inovação" nas entradas em campo, como a Fifa chama, dividem as opiniões de jogadores, técnicos e torcedores do esporte mais popular do mundo, que não é propenso a mudanças bruscas e é muito apegado aos seus costumes.
"Você tem que se adaptar; isso é futebol, vem com o pacote. Estilo NBA, é verdade, demora para entrar em campo, frio, mas são coisas que é preciso fazer", disse o goleiro argentino Oscar Ustari, do Inter Miami.
O clube do uniforme rosa abriu a cerimônia no sábado com um empate sem gols contra o egípcio Al Ahly, na partida de abertura do renovado torneio da Fifa nos Estados Unidos, que está sendo disputado pela primeira vez com 32 times de todo o mundo.
O alto-falante do Hard Rock Stadium em Miami anunciou em inglês o número e o nome de cada um dos 22 jogadores titulares. Eles entraram em campo obedientemente após ouvirem a chamada.
- "Prefiro o jeito tradicional" -
Ao contrário da liga norte-americana de basquete, que tem cinco atletas por equipe, na Copa de Clubes o último a aparecer não é o craque, mas sim o capitão.
Na 'Capital do Sol', o craque Lionel Messi encerrou o desfile de seu time em meio a um jogo de luzes, fumaça e câmeras que o seguiram até o campo.
"É um pouco lento, me fez sentir uma certa estranheza. Prefiro o jeito tradicional. Acho redundante fazer um show só por fazer", disse o argentino Martín Anselmi, do Porto, no domingo, após sua estreia com um empate também em 0 a 0 contra o Palmeiras.
O ritual se repetirá até a final do torneio, que acontecerá em 13 de julho no Estádio MetLife, em East Rutherford, Nova Jersey, também palco da final da Copa do Mundo de 2026, outro dos principais eventos do futebol a ser realizado nos Estados Unidos.
A nova cerimônia de entrada em campo da Fifa também elimina a execução de hinos nacionais e a ausência de crianças de mãos dadas com os jogadores, uma marca registrada estabelecida anos atrás na maioria das competições de futebol ao redor do mundo.
"Essa evolução foi projetada para elevar a experiência do torcedor e, ao mesmo tempo, destacar os indivíduos que definem o futebol mundial. Essas apresentações são uma forma de reconhecê-los no topo do futebol de clubes", explicou a entidade em uma nota enviada à AFP.
- "É diferente mas é bonito" -
O especialista em marketing esportivo Rafael Zanette acredita que o novo rito de passagem é um teste "válido" para renovar um esporte com "regras" e "valores" profundamente enraizados, embora duvide que possa transformar a cultura esportiva americana, tão fiel à NBA e ao futebol americano.
"Imagino mais como uma coisa mais simbólica do que uma ação concreta que a partir de agora os americanos vão gostar mais do futebol", disse ele à AFP.
Na tentativa de atrair mais atenção em um contexto econômico global complexo, a entidade que comanda o futebol adicionou outros novos elementos à Copa do Mundo de Clubes, como a instalação de câmeras corporais nos árbitros.
"Já é o esporte número um do mundo. Precisa se tornar um dos principais esportes também em um país tão grande como os Estados Unidos", disse recentemente o presidente da Fifa, Gianni Infantino.
Alguns, tanto dentro quanto fora de campo, já deram sua aprovação à ideia disruptiva de Infantino, destacando o bom início do torneio, que foi criticado desde o início por aumentar a carga de um calendário de futebol já apertado e pelo potenciais baixos públicos nos doze estádios.
"É um pouquinho diferente. Estamos acostumados com outros tipos de entradas. Faz você se sentir um pouco mais importante quando entra em campo. É diferente, mas agradável", disse o meio-campista uruguaio Giorgian de Arrascaeta, do Flamengo.
Vestido com a camisa rubro-negra, Wesley Batista acompanhou a estreia vitoriosa de seu time (2 a 0) contra o Espérance da Tunísia, na segunda-feira, na Filadélfia.
Nascido em Itabuna, na Bahia, este encanador de 26 anos é um entusiasta das boas-vindas em campo igual às que o basquete deu a estrelas como Michael Jordan e LeBron James.
"Acho fantástico porque gera uma emoção tanto para nós, os torcedores, como um apoio para os jogadores, que vão entrar no campo com mais garra, com mais vontade", explicou à AFP. "Tem muito 'mimimi', muito 'chororô' [daqueles que se opõem a essa mudança]. Tem que deixar isso de lado e ir se adaptando".
J.Sotiriou--AN-GR