Putin recebe principais negociadores dos EUA para falar sobre Ucrânia
O presidente russo, Vladimir Putin, se reuniu, nesta terça-feira (2), no Kremlin, com o enviado americano Steve Witkoff e o genro de Donald Trump, Jared Kushner, para falar sobre o plano de Washington que busca pôr fim à guerra na Ucrânia.
"Fico muito contente em vê-los", disse o chefe de Estado russo a Witkoff e Kushner, sentados ao lado de tradutores. O assessor presidencial russo, Yuri Ushakov, e o enviado comercial do Kremlin, Kirill Dmitriev, também participaram da reunião, segundo a TV estatal.
Antes do encontro, Putin insistiu em afirmar que seu país estaria pronto para a guerra caso a Europa buscasse um conflito. Ele também acusou os europeus de dificultarem os esforços para encerrar quase quatro anos de combates com os ucranianos.
"Não temos intenção de ir à guerra com a Europa, mas, se a Europa quiser e começar, estamos prontos", declarou Putin à imprensa.
A reunião na capital russa é realizada após vários dias de intensas negociações diplomáticas que deixaram Washington "muito otimista" sobre as possibilidades de encerrar o conflito mais sangrento na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
Espera-se que os delegados apresentem a Putin uma nova versão do plano americano para acabar com as hostilidades, elaborado depois de uma versão anterior, que Kiev e seus aliados europeus consideraram que faz concessões demais a Moscou.
Uma delegação ucraniana poderia se reunir com Witkoff e Kushner na quarta-feira, possivelmente em Bruxelas, disse à AFP um alto funcionário de Kiev.
"Os Estados Unidos querem nos informar diretamente depois de sua reunião" com Putin, declarou Zelensky na terça-feira, durante uma visita à Irlanda, onde busca consolidar o apoio europeu.
Mas qualquer plano deve pôr fim ao conflito de forma definitiva, disse Zelensky.
"Nosso objetivo comum é pôr fim à guerra, não apenas obter uma pausa nos combates", afirmou o presidente ucraniano, que acrescentou: "Uma paz digna é necessária".
Em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, disse estar "certo" de que os esforços dos Estados Unidos "eventualmente vão restaurar a paz na Europa".
- Momento crítico para Kiev -
A reunião entre os Estados Unidos e a Rússia chega em um momento crítico para a Ucrânia.
Kiev tem sido sacudida por escândalos de corrupção, que terminaram com a demissão do chefe de gabinete de Zelensky.
Nas últimas semanas, Moscou também tem intensificado os ataques com drones e mísseis contra a Ucrânia.
O presidente ucraniano assinalou que ainda espera discutir questões-chave com o presidente americano, inclusive territoriais, e sugeriu que a verdadeira motivação de Moscou para dialogar com Washington é aliviar as sanções ocidentais.
Putin ordenou a ação militar em larga escala contra a Ucrânia em fevereiro de 2022, qualificando-a de "operação militar especial".
Dezenas de milhares de civis e militares morreram desde o início da guerra, e milhões de ucranianos se viram obrigados a abandonar suas casas.
Os europeus temem que Washington e Moscou fechem um acordo sem envolvê-los ou forcem os ucranianos a fazer concessões injustas.
Um plano americano de 28 pontos, apresentado no mês passado, se alinhava tão estreitamente com as demandas russas que provocou acusações de que Moscou tinha participado de sua redação, o que Washington negou.
Segundo uma conversa por telefone revelada no fim de novembro pela Bloomberg, Witkoff aconselhou funcionários russos sobre como Putin devia falar com Trump sobre o conflito na Ucrânia.
- Avanço russo -
No terreno, forças russas realizaram em novembro seu maior avanço no front ucraniano em um ano, segundo análise da AFP de dados do Instituto Americano para o Estudo da Guerra (ISW), que trabalha com o Critical Threats Project (CTP).
Em um nês, a Rússia arrebatou 701 km2 dos ucranianos, o segundo avanço mais importante depois do de novembro de 2024 (725 km2), excluindo os primeiros meses da guerra, na primavera de 2022.
Na segunda-feira, a Rússia reivindicou a conquista da cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, um centro logístico estratégico para Kiev, assim como a de Vovchansk, no nordeste. No entanto, a Ucrânia afirmou na terça-feira que os combates em Pokrovsk continuam.
Também em novembro, a Rússia lançou mais mísseis e drones em ataques noturnos contra a Ucrânia do que no mês anterior, com um total de 5.660 mísseis e drones de longo alcance (+2%).
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K.Papadimitriou--AN-GR